Luigi : 4 Janeiro 2010
Sim, brochei algumas vezes em apresentações caseiras. Contudo em meu caso reparei que estas travadas psicológicas tinham a ver com deficiência técnica. Se alguém infinitamente melhor do que eu tocava antes, me dava uma inibição, beirando o pânico, que não conseguia dedilhar uma música. Lembro da época da banda "The Pissing Dogs", com o Aloisio, que havia o Joãozinho, que tinha vindo de Santos e estava morando na Fradique, quase esquina com a Arthur de Azevedo, e o cara era ‘the best’.
Nunca havia visto um cara tocando com tamanha desenvoltura; ele fazia o George Harrison numa banda que tocava nos inferninhos do Centro. Era incrível vê-lo tocar, tocava com todas as nuances do George. Todos os arpejos de um solista estavam nas músicas que Joãozinho tocava. A galera babava literalmente, quando ele dava uma canjinha; havia detalhes que ninguém fazia e ele executava como se fosse o próprio George. Aprendi com ele o solo de "Till there was you" com todas as diminutas, igualzinho ao disco.
E um detalhe, nessa epoca 1965/1966 ‘Till there was you’ havia sido surrupiada pelo brilhante programador da Odeon brasileira, pois só foi lançada em compacto-duplo em 1967. Mas Joãozinho, além da Cida (lembra daquela fã?), tinham o disco original. Pois quando conheci o Joãozinho na casa do João Miguel, falaram para ele que eu era muito promissor como baixista e pediram para tocar o baixo de ‘All my loving’. Foi a maior brochada, pois já tinha visto ele tocar baixo; era um Macca enrustido; o cara tinha um ouvido infernal capaz de decifrar quaisquer acorde ou tom na maior facilidade.
A sorte é que fiz amizade e consegui aprender muita coisa. Na verdade, através dele, vi que 99% dos garotos tocavam Beatles de forma errada. Havia sempre um arpejo, uma nota, uma coisinha a mais que fazia a musica tornar-se Beatle song. Se eu te falar, Luigi, em dois encontros consegui aprender nuances que estavam ali mas precisavam ser decifradas corretamente. Por exemplo, em ‘And I love her’, há o Mi com 6 [E6] que Lennon faz, no entanto George faz uma invertida que é o som da música, sem esta nota ela fica completamente vazia. Foi estas coisitas que consegui perder as brochadas.
O episódio do Arnaldo e do Sergio, já te contei, mas depois que o Arnaldo me ensinou o toque do ‘Ando meio desligado’, fiquei tocando na frente dos dois e da galera toda, já havia superado meus medos.
O Joãozinho e o grande amigo dele, Pedrinho, a ultima vez (anos 80) que os vi, estavam tocando na banda do Jorge Ben(jor).
Sim, creio que a medida que o corpo vai envelhecendo, a regeneração seja do alcool ou da cannabis ficam mais demorada, é a lei natural da vida. Não se apoquente. Afinal, você fica chapado mais tempo ou é só a ressaca que demora para passar ?
Para este ano decidi me levantar, não vou ficar mais um ano a mêrce das doenças.
Vou fazer a segunda angioplastia a partir de 21 de janeiro, pois o Dr.Ducilek achou conveniente um intervalo de 45 dias entre as angioplastias devido a minha situação de renal crônica.
Você anda tocando por aí? Com a turminha de sempre? Vou ficando por aqui. Grande abraço apertado, Paulo.
Dearest Paulo, 5 January 2010.
Muito interessante as suas descrições sobre eventos ocorridos no tempo q v. tocava no ‘Pissing Dogs’. Você tem o dom de reconstruir algo que se passou há muitos anos de uma maneira singular, que leva o leitor àquela época. Isso é muito difícil aqui no Brasil, pois as pessoas, geralmente, confundem as épocas de uma maneira assustadora. Colocam o carro na frente dos bois e coisas do tipo. Mesmo novelas de época, como a ‘Estúpido Cupido’ em 1976, já cometia erros crassos na inserção de músicas que não pertenciam à época descrita pela novela. E isso foi nos poucos capítulos que assisti. Enfim, aqui no Brasil é uma balburdia geral qdo. se trata de relembrar o passado com um mínimo de coerência cronológica. Você é uma das poucas pessoas confiáveis nisso.
Me lembro muito bem qdo. v. tocava ‘Till there was you’. Aliás, eu conheci a maioria dos ‘early hits’ dos Beatles não com the Fab4, mas com the FabOne... that is... YOU. O primeiro LP dos Beatles que eu comprei foi ‘A hard day’s night’ que aqui se chamava ‘Os reis do ié ié´'. Que título ridículo; portanto eu não conhecia dos LPs anteriores, a não ser os sucessos que tocavam no rádio, que eram poucos.
Muitos anos depois eu fiquei sabendo que ‘Till there was you’ era o tema principal de um musical da Broadway. The Beatles eram bem ecléticos no início de seus lançamentos fonográficos. Cantaram muita coisa da Motown, ‘You’ve really got a hold on me’ [eu gosto mais da versão original como Smokey Robinson & the Miracles], ‘Mr. Postman’ [gosto mais da versão original das Marvelettes], ‘Money’ e até hits ‘country’ e ‘hillbilly’, que depois se chamou ‘rock-a-billy’, como ‘Matchbox’, ‘Act naturally’ e outras. The Beatles gravaram até Carole King & seu marido Gerry Goffin [‘Chains’]. Exceto ‘You’ve got a hold on me’, que eu já conhecia, todas elas eu conheci sendo cantadas e tocadas por você.
Você viveu uma vida completa de emoções musicais no seu tempo de ‘teen-ager’. Eu só vim a conhecer [um pouco] dessas emoções bem mais velho.
Aquele meu grupo de musicas da Velha Guarda implodiu devido a briguinhas e saída do Gabriel, que vive no Rio de Janeiro atualmente. Eu não liguei muito, pois já estava ficando um pouco maçante, justamente devido às picuínhas.
Duas semana antes do Natal o Ozi tinha me perguntou se eu não tocava musicas dos Beatles, já que não tinha tocado nenhuma até nosso 3º encontro. Chegando em casa, eu peguei o repertório dos Beatles em ordem cronológica e até me surpreendi em constatar que eu conheço mais de 80% do repertório dos Fab4. Algumas eu acompanho bem, outras mais-ou-menos. Já cantei Beatles em Sydney junto com um beatlemaníaco italiano... imagina você!!! Nossa música Beatle que saía melhor era ‘Rain’, pois o Sergio tinha uma voz um tanto quanto ‘ardida’ [e alta] e naqueles pedaços que o Lennon canta Ra a a a a in... I don’t mind... Shi i i i ne... Nós exagerávamos no tempo... mas ficava legal... eu gostava muito. ‘I’m only sleeping’ também era uma de nossas favoritas, pois dava para gritar até não poder mais.
Por falar em Beatles, no dia 24 de Dezembro, antes de eu sair de casa, eu vi na TV do Osvaldo [meu irmão] que the Beatles estavam cantando ‘I want to hold your hand’ ao ‘vivo’, no Ed Sullivan Show de 1964. Fiquei abobalhado de ver que o ‘som’ dessa música [ao vivo realmente] é 70% Macca e 30% Lennon. Quem leva a musica [vocalmente] é o Macca... o John faz as harmonias sempre em tom mais baixo que o Paul [óbviamente]... e o George NÃO canta nada, muito menos o baterista. Fiquei abobalhado de ver o trabalho hercúleo do Paul [e Lennon em menor escala].
Um abraço tão grande que nem sei... eu gosto muito de você. Luigi Carlo.
Rua Theodoro Sampaio, 2112; the building where I used to work between 1961 and 1967 is still there. Paulo used to live four buildings up on number... Even though I only met him in 1967.
Luigi : 6 January 2010 – It’s for you
É claro que não. Não vou ficar chocado nem tão pouco constrangido com as suas narrativas. A única coisa que nos pertence é a liberdade de agirmos conforme nossa consciência, por isso, muitas vezes procuramos satisfação em atos que a sociedade jamais irá aceitar, no entanto são estes minutos que servem para acomodar nosso irriquieto espírito e fazem com que a gente possa caminhar na nossa jornada.
Por outro lado preciso dar uma de “careta” geral.
Luigi, tome muito cuidado com o crack, silencioso e sutil, vai nos viciando sem que a gente se aperceba. Já vi muita gente por esta vida afora em busca de satisfação momentânea embrenhar neste caminho sem volta. A vida, quando a gente não dá o valor necessário, parece que surge oportunidades para o desencaminho total e de-repente, num átimo de segundos, a gente já está nessa e não consegue mais sair.
Também a permissividade sexual representa um grande perigo, pois a gente não está seguro. Luigi, me preocupo muito contigo, com quase 60 anos, compreendi que a morte faz parte do contexto de estar vivo. No entanto o que mais me apavora, é como ele vem. Se morrer simplesmente, sem sofrimento, seria formidável. Mas até cessar as funções vitais que nos mantém vivos, vem uma onda terrível de sofrimentos, cujo processo acelerativo advem de práticas que naquele momento a gente não pensou melhor. Eu, por exemplo, perdi meus rins e estou infartado pois pratiquei ações que poderiam ter sido evitadas e redundariam em sofrimentos menores.
Com isto aprendi neste mundo a agir com a maior seguridade possível mesmo que isto represente constantemente disciplina e vigilância.
Pode ser um papo careta, mas na verdade, é a tentativa de assegurar qualidade de vida para evitar o sofrimento. O sofrimento evitável.
Me perdoe se estou sendo careta, mas pode acreditar, é de alguém, que mesmo a distancia, se preocupa muito contigo.
Sim, em outro email, você enaltece os Stones, e algumas perolas que produziram.
Outra coisa que aprendi com a idade, é de que, determinadas rivalidades que foram impingidas, tipo Beatles versus Stones, Rita Pavone versus Gigliola Cinquetti, estas rivalidades não existem. É só uma tentativa de marketing para naquela época vender mais discos. O tempo se incumbiu de mostrar uma certa faceta da verdade.
Diria apenas que os Fab Four estão na terceira remasterização: 1977, 1987 e 2009. Que outro artista ou grupo possui este trabalho? Um critico do New York Times disse o seguinte: Provavelmente eternamente Beatles serão remasterizados, para que as novas gerações possam escutar com as tendências sonoras da época.
Outra: Nunca vou conseguir completar minha coleção Beatle de CDs. Você acredita que no ano passado obtive a coletânea “The red light’s on”, com 6 discos e pirataria das gravações. Que outro artista tem ainda, ano após ano, lançamentos “inéditos” de 35/30 anos e, mais importante, vendendo ainda?
O tempo é cruel, mas traz verdades a tona. Verdades indiscutíveis.
É verdade, nas canções, sempre algum se destacava mais. Em ‘I want to hold your hand’, Paul é o condutor. Mas em ‘I fell fine’, veja o trabalho do Lennon, o solo constante é feito pela base. Além disso Lennon canta a voz principal. Em ‘All my loving’, a guitarra do Lennon é que faz o diferencial da música. Ele está em contratempo sincopado, e surge vigorosamente, necessitando de toda atenção, por isso Lennon nem a segunda voz faz, deixando a cargo do George, justamente porque dificilmente alguém faria o trabalho da guitarra e ainda cantaria.
Estou nesse momento ouvindo as gravações dos Fabs na BBC. Todo domingo no horário nobre, 19 as 20 hs, eles apresentavam-se cantando musicas pedidas pelos fãs, e por isso apareciam cantando verdadeiras perolas como ‘Sweet little sixteen’, ‘Carol’, ‘Jonhy B.Good’, ‘Lonesome tears from my eyes’ e outras. Foi de 1962 a 1968 a participação-Beatle nos domingos. Era o canal de comunicação naquela época. Não havia internet com as suas twitters para poder se comunicar com a galera, e Beatles utilizavam este programa para poder se comunicar com todos. Bom e saudosos tempos estes, sem duvida. Que saudades. Pena que no Brasil não havia esta possibilidade. A gente tinha que se contentar com o trivial e lá fora Beatles estavam gravando músicas inéditas toda semana.
Vou ficando por aqui, não fique chateado se dei umas bronquinhas, mas pode acreditar, é de coração. Também gosto muito de ti.
Abraços Vila Madalenicos, Paulo.
Tenho uma teoria que venho pensando e repensado nestes últimos tempos. Todos nós somos uma nota musical, dependendo de quem nos acompanha, nós nos transformamos em um acorde. Por exemplo, se você é um Dó e encontrar um Mi na sua vida, você estará quase formando um Dó maior. Se encontrar outro que na companhia dos dois seja um Sol, então estará perfeito. Pois terá um Do+.
Luigi : 14 January 2010 – ‘Grow old with me’
Dearest Paulo,
Luigi : 6 January 2010 - It’s for you II
Fiquei empolgado ao falar dos Fabs, que esqueci de te dizer a parte mais importante: Muito legal as tuas incursões na música, mesmo de forma amadora, pois denota busca, e tudo que a gente busca produz no final efeitos positivos. Ser um ‘Simon and Garfunkel’, mesmo “dos pobres” já é grande coisa, pois não é fácil seguir este tipo de parâmetro.
Num contraponto, encontrar alguém que seja um Re b, estará formatando quase um Do-.
Ou ainda se você for um Do e encontrar um Sib, estará quase no Do7- , acorde de transição. É vastíssima a conjunção humana que permite os acordes e a compreensão das linhas harmônicas que são possíveis.
Na realidade isto tudo começou a partir do pensamento sobre os átomos e as ultimas descobertas cientificas. Os cientistas que pesquisam os átomos, descobriram que os elétrons não possuem formatação definitiva, ou seja a mesma medição em circunstâncias totalmente iguais podem produzir resultados diferentes. E a conclusão é de que depende da companhia que este elétron possuir. Isto é o principio da filosofia quântica. Por isso é a minha teoria da compatibilidade musical entre nós, seres humanos.
Em síntese, a energia que você emana com seu parceiro musical transcende este mundo e transforma-se em energia quântica, principalmente quando se busca o aprimoramento. PENSE NISTO.
Você queima e eu que fico maluco.....(rsrsr) Abraços v.madalênicos, Paulo.
dearest Paulo, 6 January 2010.
obrigado pela compreensão sobre aqueles assuntos ‘marginais’. Obrigado também pela demonstração de preocupação, pois mostra carinho e solidariedade.
Realmente essas ‘rivalidades’ entre Beatles x Rolling Stones, Rita Pavone x Gigliola Cinquetti, David Bowie x T.Rex, Emilinha Borba x Marlene etc. foram todas fabricadas.
Note que the Rolling Stones foi uma banda ótima até 1972 (‘Exile on Main Street’), mas forçaram a barra depois disso, muito embora ainda tenham lançado discos bons em 1974 (‘Angie'), 1975 (‘Daddy you’re a fool to cry’), no tempo da discotheque (‘Miss you’) e até 1981 com ‘Tatoo you’ (‘Start me up’).Eles deviam ter parado em 1972... mas Mick Jagger tinha muitas contas-a-pagar e tinha que continuar a ‘firma’ para não sucumbir.
Realmente essas ‘rivalidades’ entre Beatles x Rolling Stones, Rita Pavone x Gigliola Cinquetti, David Bowie x T.Rex, Emilinha Borba x Marlene etc. foram todas fabricadas.
Note que the Rolling Stones foi uma banda ótima até 1972 (‘Exile on Main Street’), mas forçaram a barra depois disso, muito embora ainda tenham lançado discos bons em 1974 (‘Angie'), 1975 (‘Daddy you’re a fool to cry’), no tempo da discotheque (‘Miss you’) e até 1981 com ‘Tatoo you’ (‘Start me up’).Eles deviam ter parado em 1972... mas Mick Jagger tinha muitas contas-a-pagar e tinha que continuar a ‘firma’ para não sucumbir.
Rock é coisa p’ra jovem, não para anciões. Eles se tornaram uma caricatura grotesca, algo ridículo. Imagina o que o John Lennon, com seus comentários acerbicos, não diria sobre Jagger-Richard & Watts nos dias de hoje. Lennon ‘detonaria’ com esses anciões ‘salientes’ (dirty old men)... lembra-se de ‘Mean Mr. Mustard’ such a dirty old man... dirty old men!!! rs.
Você comentou sobre o programa que the Beatles faziam na BBC. Você nunca tentou sintonizar a BBC durante aqueles anos? A BBC sempre foi uma das emissoras mais potentes do mundo, pois o governo Britânico sempre teve a BBC como sua ‘menina dos olhos’. Até hoje a BBC é ótima. Me lembro que o Fernando sempre tentava sintonizar radios estrangeiras, chegando a ouvir a Radio Pequim e Radio Moscou.
Obrigado pelo incentivo na área musical. Bem interessante essa sua teoria musical de tons e acordes. Como eu sempre digo às pessoas, apesar de eu ‘tocar violão’, eu não me considero musico, at all! Eu não tenho ‘cabeça’ de músico. Eu não sei nem os nomes das cordas do violão. Só sei que a fininha é E e o bordão é E também. Sei que quando a gente faz acorde de A, a próxima corda livre é A.
Aprendi a ler acordes através dos desenhos das revistas VG [Violão & Guitarra]. Depois qdo. fui p’ra Australia, eu ficava muito tempo só em meu apto. e comecei a aprender aqueles acordes que se usam em BN [bossa nova]... mas tudo sem método. Por exemplo, eu sei acompanhar ‘Desafinado’ inteirinha... só que se eu ficar sem tocar essa musica durante um ano, já vou ter esquecido os acordes, mas é só olhar no caderno que já me lembro.
Nunca solei... não tenho coordenação motora para tal. Não tenho o mínimo talento para solo. Mas acordes eu faço [copio] numa boa. Só sei mudar de tom [transposição de tons] se eu olhar naquelas tabelinhas que a VG publicava... que eu guardo uma cópia para cada caderno-de-musica que tenho. Sincopation eu faço tudo ‘de olho’. Eu nem sabia que eu sabia tocar sincopado. Uma alemã, que eu conhecia em Sydney, me disse.
Eu acho que instrumento musical tem que se aprender desde criança, pois senão fica mais difícil... e no meu caso, ainda tenho uma certa falta de interesse em ‘avançar’. Eu me contento com o pouco que eu sei.
Não sei como eu aprendi a tocar samba... te juro que não sei. Mas eu toco, pois já levei sambas onde todo mundo sambou... quer dizer que não devo ser tão ruim assim. O Osvaldo sempre disse que eu toco ‘quadrado’, mas eu não confio muito no julgamento dele, não. Osvaldo fica sem pegar um violão 2, 3 anos seguidos. Eu não passo 5 dias sem pegar um violão.
Nossa, isso já está ficando um ‘calhamaço’. Mas é muito bom escrever para você... pois posso me explanar sobre uma grande variedade de assuntos... principalmente o musical e o sexual. Meu Deus, será que a vida só se resume nisso? Logicamente estou brincando, pois discutimos outros assuntos, como teosofia, filosofia etc.
Um super-abraço com gosto de Vila Madalena... rua Ignacio Pereira da Rocha, rua Girassol, rua Aspicuelta, rua Simpatia... daí rua Harmonia, passando pela casa do Werbal, virando a rua Original... ou a rua Purpurina... até chegar à rua Jericó... Luv, Luiz.
Hoje 08/01 é um dia dificílimo para mim. Faz 15 anos que meu filho Brian se foi. E embora o tempo vai apaziguando as angustias, a saudade e a dor persistem.
Há uma música do Chico Buarque: ”Pedaço de mim”, que descreve exatamente a saudade: A saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu.
Meu signo de Câncer é notório pelo sentir. E isto, infelizmente, se faz presente, corroendo minha alma visceralmente. Sinto esta angustia presente dentro de mim de forma tão vivida, que as vezes penso que vou sucumbir.
Imagine você que em 08/01 de 2004, tive meu primeiro infarto.
É claro que ocorreram circunstâncias aliadas a recordação da data que me corroeram e me detonaram, a ponto de não conseguir suportar.
Desculpe, Luigi, é um desabafo. Preciso compartilhar com alguém esta sensação de um ácido voraz te corroendo a alma, e não existe alivio, na realidade é o famigerado inferno-em-vida.
Brian era o filho mais apegado a mim. Não por que tenha morrido, e pós morte, normalmente, os elogios são múltiplos os defeitos poucos. Mas a realidade era esta.
O Jean sempre foi mais ligado à mãe. O Byron a si próprio. E o Brian era ligado a minha personalidade. Adorava os Beatles, e cantava músicas em Inglês com 5, 6 anos de idade, surpreendendo a todos ouvintes. Seu repertorio incluía ‘All my loving’, ‘Wait’, ‘Eleonor Rigby’ entre outras.
Costumava ficar horas escutando meus vinis, como se isto lhe hipnotizasse. Ao invés de contar estórias da carochinha costumava contar historias dos Fabs e ilustrava, as vezes, com a retirada de um canal estéreo para mostrar como ficava a música sem determinado instrumento. E ele se encantava quando percebia determinada música com outras nuances. Nenhum dos meus filhos suportava a culinária japonesa. Reclamavam do peixe crú, o paladar que era sempre agri-doce. Brian era o único que me acompanhava, com prazer, minhas incursões gastronômicas, o que rendia a ele gozações do tipo: É japonês mesmo !!!!
Além disso, sempre me procurou para as conversas mais sérias. Como se fosse o alento que buscava. Durante seus 17 anos me procurou com os mais diversos temas que afligiam sua mente, e isto foi criando uma intimidade indestrutível de pai e filho.
E é por tudo isto que, as vezes, não consigo suportar sua ausência.
Em 2003, final do ano, ocorreram certos fatos que até hoje não consigo compreender. Estava a desenvolver um trabalho de colocação de software musical numa cliente chamada Eliana. Uma mulher muito atraente física e mentalmente.
Conversávamos horas a fio, o que começou a despertar ciúmes no esposo dela. Na realidade nossa intimidade de desabafar coisas da vida, não havia chegado ao desabafo total. Nem haveria porque. Afinal embora houvesse afinidades, sempre a tratei como cliente.
Certo dia, ela me procurou e me contou que na família dela, mais precisamente uma sobrinha de nome Andrezza, que era mística, havia numa sessão realizada na noite anterior manifestado uma mensagem para mim. E era de um filho meu, desencarnado e queria dizer que tudo estava bem com ele, que não se preocupasse.
O surpreendente disto é que jamais havia mencionado nenhum fato, nem mencionado minha dor com o Brian.
Desesperado procurei conseguir uma sessão com esta Andrezza. Ela se recusou alegando de que eu iria passar por problemas e que ela não gostaria de interferir, nem poderia.
Quando estava na insistência, me ocorreu o infarto, a internação, a primeira angioplastia, a luta pela sobrevivência e quando me assentei, três meses depois, perdi totalmente o contato, pois a Eliana havia se mudado e os vizinhos não sabiam (ou não queriam contar) o endereço novo.
De qualquer forma, isto no final, representou um certo alento. Pois a mensagem dizia que tudo estava bem com ele. Não sei no que acreditar...
Deixando toda esta depressão.
Sim, ‘It’s for you’ foi gravada pela Cilla Black, mas os Beatles também gravaram, mas nunca foi lançada comercialmente (até agora).
Existem mais umas dez /doze musicas que eles deram para seus companheiros tais como Peter and Gordon, Swinging Blue Jeans, Cilla Black e outros. As gravações demo com os Fabs não foram lançadas ainda comercialmente, e são as perolas dos beatlemaniacos.
Se o melhor do seu amigo Jaime foi herdado por você, você deve de aproveitar esta fase. Pois as fase não são eternas e devemos desfrutar o que a vida oferece de melhor. É claro, sempre tendo em mente a segurança e o não decair da qualidade de vida.
Desculpe se fui depressivo neste email. Mas é o momento deste dia.
Sonho em pelo menos mais uma vez passear pelas ruas da Vila Madalena. Provável que tudo estará mudado. Mas se encontrar uma casa, uma rua tal qual há 40-50 anos, estarei satisfeito. Após as angioplastias, vou com certeza realizar esta peregrinação.
Você vem comigo ?
Abraços muito saudosos, Paulo.
dearest Paulo – 10 January 2010
Eu não me lembrava que 8 de Janeiro é a data trágica da sua vida. Eu até mencionei seu filho, embora não pelo nome, na ultima mensagem, pois cabia no contexto, já que falava de ‘desestruturação mental’, aquele ponto crítico que uma pessoa ‘afunda’, literalmente.
Não dá para explicar certas ocorrências nas vidas das pessoas.
Geralmente eu chamo isso de ‘karma’ pessoal, mas tudo muito vagamente, pois não há uma linha de raciocínio lógico que explique essas coisas. Veja que seu ‘karma’ pessoal já veio desde cedo ligado à morte prematura, primeiro de seu Pai e depois a tragédia de sua Mãe. Daí quando v. se torna pai, a morte te visita prematuramente outra vez, dessa vez, levando seu filho preferido.
A morte de seu filho Brian é totalmente inexplicável pelos métodos conhecidos. É um mistério!
Esse episódio que v. narrou, sobre a Eliana é bem misterioso também... mas eu tendo a crer que houve ‘foul play’ aí. Você pode ter deixado transparecer, mesmo indiretamente, algo sobre a morte de um filho seu.
Eu posso imaginar o desespero seu qdo. ficou sabendo que havia uma ‘mensagem’ de seu filho para você. É uma loucura! A ânsia de poder ‘voltar’ e ‘apagar’ o acontecido... e a grande frustração ao mesmo tempo, além da auto-recriminação, que possivelmente v. pode ter sentido.
A dor é grande, como v. muito bem descreveu naquela musica ‘Pedaço de mim’. As vezes, a dor é a única coisa real. Não foi o John Lennon que dizia algo assim? Ou seria o ‘grito primal’ que ele dá em ‘Mother’? Veja v. como Lennon tinha tb. esse ‘karma’ que falei. A mãe dele morreu atropelada e ele foi assassinado com tiros à queima roupa. Dá para explicar? Não! Mas os elementos estavam todos alí.
Por falar em John Lennon, v. nunca me disse como foi sua reação quando ficou sabendo que ele tinha sido assassinado, em Dezembro de 1980. Você já morava em Curitiba?
Agora, voltando para partes esperançosas: sim, aceito seu convite de uma peregrinação à Vila Madalena. Serei seu ‘guia’, pois sempre passeio por aquelas bandas. Na verdade, ultimamente eu não tenho ido lá. Na ultima vez que estive na rua Simpatia, notei que a antiga casa da Fatima tinha sido destelhada e as janelas e portas fechadas com tijolos e argamassa. Eu creio que uma construtora comprou os terrenos de ambas casas [geminadas], mais a casa da Sonia, mais a casa daqueles negros... e muito provavelmente já devem estar construindo um edifício alí.
Mas sempre dá para a gente achar alguma casa que ainda está igual. O numero 103 está igualzinho... só pintaram a casa, e ultimamente puseram uma porta lá embaixo, pois até há 2 anos, até a porta lá da rua era a mesma.
Outro lugar que ainda está igualzinho é o edifício da rua Theodoro Sampaio, 2112, o antigo Laboratorio Universal. Aquele prédio está igualzinho... até as janelas são as mesmas. Ah, o predio que v. morava tb. está igualzinho...
Vamos à Vila Madalena, sim... Abraços vilamadalenos para você... Luigi.
Luigi : 14 January 2010 – ‘Grow old with me’
Para que possa falar a respeito da morte de Lennon, 8 Dezembro 1980, tenho que em primeiro lugar te explicar qual era o meu real sentimento com relação aos Fabs, que com certeza era diferente do sentimento que um fã nutre pelo seu ídolo(s).
No meu caso, como tive uma infância relativamente complicada com a morte do meu pai e a fase de embriaguês de minha mãe, tive que eleger “portos seguros” para tentar continuar a viver dentro da maior normalidade possível, se é que isto fosse possível.
E é claro que as definições e as conclusões são de hoje, pois não possuía cabedal de conhecimentos naquela época que me proporcionasse definições corretas do que estava ocorrendo comigo.
Por alguns anos tive, durante o vazio, pois nada me convencia da “honestidade”, tive como válvula de escape alguns desenhos animados do Disney tais como ‘Fantasia’, ‘A Dama e o Vagabundo’, ‘Pinochio’, heróis que eu procurava me aprimorar para possuir valores como os modelos.
Quando surgiu the Beatles em minha vida, os rapazes possuíam aquilo que era meu exemplo de vida; alegres embora fossem produtos do pós-guerra; até certo ponto inconsequentes, jovens, belos e sobretudo grandes construtores de melodias, aquelas melodias que iam até o inconsciente.
Para mim, que tive inicio na escola clássica de musica, devido ao de ballet de minha Titia, acostumado a ouvir Debussy, Beethoven, Rinsky Korsakoff, Chopin, as melodias Beatles eram de uma digestibilidade fácil, além de que hoje compreendo que as melodias Beatles involuntariamente trabalham com o inconsciente coletivo e é por isso que agradaram a tantos. Tome, por exemplo, canções de ninar, elas são na mesma freqüência que ‘If I fell’. O vocal que existe em ‘Baby’s it’s you’ é de um sentimento visceral e pungente remetendo as origens de ser naturalmente puro.
Tudo isto, sem eu perceber naquele momento, criou um elo entre mim e os Fabs indestrutível, pois estava arraigado no ultimo do meu ser. Em todas as épocas até hoje, quando estou estressado, basta escutar determinadas melodias e tudo volta ao normal. Me eduquei de forma que assim fosse.
Em síntese, representam entre outras coisas, meu alicerce de que o mundo, embora contenha determinadas ações desagradáveis, é plausível e faz fundo músicas dos Fabs. Foi assim que construí meu mundo, e embora todas as situações me apontassem para o insucesso como pessoa, aqui não falo de sucessos mundanos da vida, fama, fortuna, poder etc, mas falo da vitoria pessoal, tornar-se uma pessoa leve, light, capaz das pessoas depositarem a confiança, e espelhado nos atos positivos dos Beatles, tentei ser uma pessoa melhor...
Quando Lennon morreu, foi numa segunda feira, soube da noticia em torno das 7:00. Parecia que meu mundo havia desabado.
A principio, pensei que, talvez, fossem noticias erradas, e que talvez houvessem exageros. Será que a exemplo de Paul “morto”, com pistas nos discos e tudo, não passaria de golpes publicitários, sabe se lá de quem? Não poderia ser?
A medida que ocorreram as confirmações, meu estado de choque aumentava. Realmente the Dream was over !!!!! Era meu sentimento.
Aquele sentimento da representação do porto seguro através dos 4 rapazes, estava começando a ruir, de forma tenebrosa e cruel.
Havia chegado o doloroso momento de crescer. De dizer adeus aos ‘teen-age early years’ que tentava viver mesmo com 30 anos. Havia me refugiado nas aspirações dos Fabs e havia deixado o mundo correr, muitas vezes com os olhos cerrados, para não perceber a quantas andava o mundo. E desta vez teria de encarar a realidade: o mundo havia me levado um dos meus irmãos mais velhos, guru de muito dos meus pensamentos. A Paz não existia. Havia uma guerra lá fora.
Creio que passei uns 15 dias num estado de vida ‘viver por viver’. Afinal não era um ídolo que se fora, era minha vida de pelo menos 16 anos que construíra em torno desta pessoa , e violentamente, abruptamente, havia sido interrompido.
O mundo não seria mais o mesmo, e não foi. Creio que a partir desta data as coisas deste mundo nunca mais foram iguais...
Não, nesta época eu morava ainda em Sampa, comecei a morar em Curitiba em 1998, após um período de 3 anos em Porto Alegre, pós morte de meu filho (isto é um capitulo a parte).
Sim creio no Karma, mais ou menos como você descreveu. Sou Budista e minhas convicções são de que existe uma linha que parentes seguem, e esta tendência, boa ou ruim, manifesta-se na vida de cada um.
Creio na filosofia budista até o ponto em que afirma-se da existência da vida após a morte, não consigo acreditar em nenhuma filosofia pos-morteum, acho que, na melhor das hipóteses, os pensadores colocaram esta possibilidade como um paliativo para a vida. É cruel pensarmos que morreu, acabou! Por isso mestres das religiões procuraram atenuar este sofrimento com a possibilidade de continuarmos a existir depois da partida.
Sim pode ter ocorrido isto que você aventou no caso que te contei da Eliana. Todas as hipóteses tem de ser analisadas para não acreditarmos em Dogmas inúteis.
Luigi vou ficando por aqui.
‘Grow old with me’, não sei se você conhece, é uma das musicas Lennon, que esteve até cogitada para ser lançada “psicografada” da mesma maneira que ‘Free as a bird’.
‘Real Love’ é na minha opinião destas músicas inacabadas de Lennon, e que tinham sido gravadas pelos Fabs inicialmente. É das melhores. Obrigado por ter aceito meu convite, para fazermos uma “romaria” à Vila. Grandes abraços emocionados, Paulo.
dearest Paulo, 17 January 2010.
Não sabia que ‘Grow old with me’ era uma gravação inédita de Lennon. Por falar em ‘Free as a bird’, eu me lembro direitinho o dia que ela foi lançada. Eu trabalhava no Royal Prince Alfred Hospital em Sydney e tinha quase que um pequeno ‘escritório’ apenas meu, onde eu arquivava lâminas de vidro com varias ‘especimen’. Eu sabia que iam lançar a ‘nova’ musica dos Beatles, e como tinha radio perto, fiquei ligado na BBC, que é retransmitida para Sydney através de satelite, portanto o som é bom.
Pena que os tempos já eram outros e a musica acabou meio que ‘desaparecendo’ no mundo pop novo. Além do mais era apenas um fragmento de Lennon e o resto ‘reconstruído’ pelo Macca. Mas mesmo assim foi algo ‘legal’.
Mudando de assunto, mas ainda ficando tangencialmente com the Beatles, uma amiga me pediu para escrever uma ‘review’ sobre dois LPs do Ronnie Von. Acabei de escrever uma ‘crítica’ sobre eles, e vou te mandar uma cópia do que escrevi sobre o primeiro album dele pela Polydor, já que exatamente metade - 50% - do disco foi de material originalmente de Lennon & McCartney. Se v. achar algum erro meu, por favor, me diga, pois eu ainda não enviei o texto a ela.
Eu procurei não ‘arrasar’ totalmente com o Ronnie Von, pois a moça, apesar de não ser fã no. 1, aprecia o ex-Pequeno Príncipe de certa maneira. Na verdade eu, não sei por qual cargas d’água, comprei esse LP na época. Como v. lerá na ‘review’, Ronnie colheu material de ‘Help’ (2), ‘Rubber Soul’ (3) e ‘Revolver’ (2)... os albuns mais incríveis dos Fab4 antes do divisor-de -guas, que foi ‘Sgt. Pepper’s’.
Você sabia que o título ‘Rubber soul’ é uma ‘corruptela’ (trocadilho) de ‘rubber sole’, que significa ‘sola-de-borracha’? Eles eram muito perspicazes mesmo! Esse foi o LP que me ‘despertou’ aos Beatles, muito embora eu já tivesse comprado o LP ‘Os reis do ié ié ié’ (que título ridículo) anteriormente. O que me mudou em relação aos Beatles foi ter escutado ‘Girl’ no radio, com John Lennon. Daí em diante não dava mais para negar que eles eram [no mínimo] especiais.
Querido Paulo, acho que vou parando por aqui, pois já faz 2 dias que li seu texto, mas como o assunto é, de certa maneira, doloroso, eu fiquei pensando e pensando no que responder. Não adianta pensar muito. Espero que na próxima eu tenha algo de bom para escrever.
Enquanto isso, tenha um ótimo fina de domingo... e muito boa semana... Abraços multiplos com gosto de ‘Rubber soul’... Luv, Luigi
Luigi : 18 January 2010.
È engraçado esta historia do Ronnie Von, principalmente numa relação com a gente.
Na época da Rua Simpatia, vcs tinham um LP do Ronnie, que mesmo negado, o teu irmão Fernando gostava, pelo menos de algumas músicas, e que me lembro, ele gostava de fazer uma brincadeirinha comigo: Após ouvirmos Beatles, ‘Sgt Peppers’ de preferência, ele dizia algo como: “agora vamos ouvir música de verdade”, e tocava o Ronnie. Ele morria de rir, num deboche e eu ficava irritado pois não conseguia considerar as músicas do Ronnie. Era muito jovem para entender o que ocorria de verdade.
Sim, suas criticas estão corretíssimas: era o que ocorria no yeah, yeah, yeah tupiniquim. Apenas a titulo de comentário eu acrescentaria:
A industria fonográfica brasileira, a exemplo da mundial, era o mapa da mina, as gravadoras travavam verdadeiras batalhas. Naquela época, o que uma empresa (gravadora) pudesse nocautear seu concorrente era realizado sem escrúpulos algum. Não havia internet, as TVs estavam adentrando de uma forma mais compacta, principalmente nos lares brasileiros; enfim a suprema realização de um artista era medida pela quantidade de discos vendidos, e isto acirrava mortalmente a concorrência.
Me lembro de um fato que demonstra a animosidade que existia entre gravadoras, produtoras, artistas. Os Clevers foram dormir uma noite e no outro dia não podiam mais utilizar este nome, pois o empresário Cleber Machado (Antonio Aguillar, na realidade) havia, subrepticialmente, registrado este nome, e os Clevers não podiam mais se apresentar com este nome. Durou alguns meses esta demanda (o que era uma eternidade para a industria fonográfica). The Clevers (a banda que acompanhou Rita Pavone) viraram Os Incríveis e o empresário formou os Novos Clevers, que gravaram, como ponto de partida, ‘Sem resposta’ (‘No reply’); terrível diga-se de passagem, mas melhor que o Renato e seus Blue Caps e suas infames versões dos Fabs.
Havia um certo latifúndio-sonoro aqui no Brasil que começava pelo Rei Roberto Carlos, campeão absoluto de vendagem de discos de artistas nacionais, e seus súditos, que eram “obrigados a pertencer” a mesma gravadora, a multinacional CBS. Vanderlea, Erasmo (RGE, na verdade), Leno & Lilian, Renato e seus Blue Caps, Golden Boys (Odeon) e muitos outros pertenciam ao casting da CBS, e como desfrutavam da preferência popular, também impulsionados pelo programa Jovem Guarda, dormiam sob os louros de uma liderança exarcebada sobre as outras gravadoras.
Estas outras gravadoras (Polydor, Chantecler, RCA e outras inúmeras) “rezavam para que surgisse algo novo”, cuja somatória dos méritos pudesse enfrentar o “poderoso inimigo”, a CBS. Foi neste cenário, que surgiu no Rio de Janeiro, um jovem cantor: Ronaldo Nogueira, cujo “phisic du role” era exatamente o que as gravadoras procuravam: belo, com um certo ‘sex appeal’, meio intelectual (vinha de classe média) e preenchia um certo nicho ausente no mercado brasileiro, interpretar traduzido as musicas dos Fab Four, estes sim os verdadeiros blockbuster mundiais.
'All my loving' (Feche os olhos) e 'You're gonna lose that girl' (Meu primeiro amor).
O que tínhamos por aqui eram os Renato e seus Blue Caps, com sofríveis versões, que muito embora pertencessem à CBS, era de uma primariedade total. ‘Menina linda’ (I should have known better), ‘Dona do meu coração’(Run for you life), ‘Feche os olhos’ (All my loving), ‘Até o fim’ (You won’t see me) eram alguma das perolas traduzidas e “tocadas pelos rapazes”. O que soava hediondamente terríveis. As gravadoras queriam encontrar caminhos que proporcionassem êxito financeiro, no entanto esqueciam do principal detalhe: a técnica.
'You won't see me' (Até o fim), 'Tell me what you see' (Gosto de você) & 'Run for your life' (Dona do meu coração).
Beatles vieram do proletariado. Quando chegaram ao top, investiram naquilo que mais gostavam: instrumentos. Foram a primeira banda de âmbito mundial, que gravavam com diversos instrumentos. Só para se ter idéia, no primeiro LP, aquele do ‘I saw her standing there’, utilizaram 4 guitarras diferentes, e no ‘Rubber Soul’ onze guitarras diferentes. Iam desde a clássica Gibson Les Paul (‘Michelle’) até, a moderna para a época, Epiphone (‘If I needed someone’), Stratoscaster (‘Drive my car’). Daí o resultado em termos de som: ninguém conseguia fazer aquele tipo de som, por melhor que fossem os guitarristas.
Dos Beatles apenas Ringo, com a bateria Ludwig e Paul, com seu baixo Hofner, não trocavam de instrumentos a cada música. Já Lennon e Harrison utilizavam um verdadeiro arsenal de guitarras e violões em busca de uma sonoridade única. Isto tudo entremeados em instrumentos variados que gravavam em play-back, tais como tambourins, órgãos Rolland, pianos Steinback.
As outras bandas da época, mesmo em termos mundiais, tocavam e gravavam com uma única guitarra. Pode verificar. O som de uma banda era sempre igual. Poderia ser mais agudo, mais grave, com ou sem distorção, assim por diante. Pode reparar após Beatles, a cada música o som era diferente, não havia repetições. Eram os jovens proletários de Liverpool realizando o sonho de consumo, tocar em diversas guitarras com sons que sugeriam matizes diferentes.
Aqui no Brasil também o erro se consumou. Tentar tocar Beatles traduzido ou não, sem variação nenhuma, e a imitação perto do original era algo intragável. E Ronaldo Nogueira que se transmutava em Ronnie Von, não poderia ser diferente. Não possuía escopo tecnológico que não assegurasse o vexame final. Foi mais um que tentou copiar, de certa forma, e se deu mal.
Esta é a razão pela qual, como você brilhantemente definiu, as músicas de Tommy Standen eram as melhores do LP, pois não haviam a sombra dos maiores gênios da musica pop mundial.
Conheço algumas versões sobre o significado de ‘Rubber Soul’. A que acho mais plausível, como te disse, havia uma verdadeira guerra entre as gravadoras, tanto lá como aqui. Em 1965, pela primeira vez a EMI “solicitou” aos Fabs que envidassem esforços para concorrer com a Motown que estava ganhando terreno com a Black music. Que era um soul estilizado com pandeiros, bateria e instrumentos do Rythm & Blues. Seguindo esta recomendação gravaram ‘Drive my car’.
Mas no LP ‘Help’, conforme podemos observar em ‘I’m down’ (versão Anthology), Paul, após cantá-la, comenta com um assistente de som que aquilo ainda não era o som buscado, era apenas um “plastic soul, man”. Busca que iria prosseguir no LP seguinte que foi denominado ironicamente de ‘Rubber soul’, pois ainda não era o ‘soul’ idealizado. Busca que seria mais concretizada no LP ‘Revolver’ com ‘Got to get into my life’.
Todos estes fatos apenas apressaram o surgimento da Apple, que eles já estavam estudando e planejando, pois não queriam ser obrigados a seguir tendências musicais direcionados pela alta cúpula da EMI. Com gravadora/produtora própria estariam livres destas determinações.
Ronnie Von teve de “pagar” o prejuízo do investimento lançado sobre sua carreira e até aquele momento foi apenas mais um lançamento a dar com os burros n’agua.
Teve de aceitar gravar uma música que, segundo os entendedores, seria o grande sucesso de 1967: ‘A praça’, do Carlos Imperial. Seria uma mudança radical na rota traçada, mas enfim pagaria o alto investimento. ‘A praça’ foi uma das musicas mais tocadas no ano que nós nos conhecemos, no Top Five foi a quinta, perdendo para Roberto Carlos (‘Namoradinha de um amigo meu), Sergio Reis (‘Coração de papel’), Wayne Fontana (‘Gina’), Michel Polnareff (‘Love me please Love me’), mas conseguiu pagar o prejuízo, mesmo às custas de um marketing duvidoso.
Acho que exagerei nos comentários, vou ficando por aqui, é que me entusiasmei, trata-se de um assunto que gosto muito. Abraços com gosto de pequeno príncipe (rs), Paulo.
P.S.: ‘Grow old with me’ também foi gravada pelos Fabs, numa unica tomada ‘out take’ 1, e é por isso muito apreciada pelos fãs.
Dearest Paulo, 20 January 2010.
A propósito da falta de qualidade das versões de músicas dos Beatles aqui no Brasil, não devemos nos esquecer que o Brasil estava passando por uma fase ‘burrificação’ que começou em 1º de Abril de 1964, com o golpe militar que derrubou o governo legítimo de João Goulart. Jogaram a Constituição na privada e exilaram nossos melhores cérebros.
Enquanto os USA e Europa entravam num período de liberalismo radical, que culminou com o ‘summer of love’ em San Francisco em 1967 (Monterrey Pop Festival) e os protestos dos estudantes europeus em Paris em 1968... o Brasil ia em sentido contrário. O Brasil, como nossa pobre America Latina, estava indo na contra-mão da História. Aqui houve rompimento do processo democrático em Abril de 1964 e Fechamento Total com o AI-5 no final de 1968.
Enquanto os USA e Europa entravam num período de liberalismo radical, que culminou com o ‘summer of love’ em San Francisco em 1967 (Monterrey Pop Festival) e os protestos dos estudantes europeus em Paris em 1968... o Brasil ia em sentido contrário. O Brasil, como nossa pobre America Latina, estava indo na contra-mão da História. Aqui houve rompimento do processo democrático em Abril de 1964 e Fechamento Total com o AI-5 no final de 1968.
Enquanto os USA realizavam Woodstock, nossos estudantes eram encarcerados por fazerem um congresso da UNE num sítio em Ibiúna-SP. Enquanto a ‘swinging London’ lançava o vanguardismo pop com Apple e Carnaby Street, nós tínhamos a famigerada Jovem Guarda com um cérebro de ameba.
Obrigado pelas explicações sobre o título ‘Rubber soul’. O que eu disse não contradiz o que v. disse. Aliás, só vem a confirmar o título. Os Beatles conseguiam fazer auto-crítica de si mesmos... daí o título ‘rubber’, invés de ‘plastic’, que tb. seria exagerado já.
Apesar de não saber muito sobre a história dos Beatles, eu conheço um pouco da historia do rock [e pop], pois li muita coisa a esse respeito depois que aprendi inglês. Eu sei que the Beatles gostavam do ‘Motown sound’... tanto que gravaram ‘Money’, ‘You really got a hold on me’ e outras. Então tudo o que v. falou faz sentido. Gozado, só que eu não consigo sentir ‘Drive my car’ como ‘soul’. Mas a intenção foi essa, sem dúvida. Já ‘Got to get you into my life’ é sem sombra de dúvida... soul.
Paulo, te envio aí seis 1o. lugares do ano de 1967, que nós nos conhecemos cursando a 4ª série ginasial no Colégio Estadual Carlos Maximiliano Pereira dos Santos.
1. 'Namoradinha de um amigo meu' (Roberto Carlos) - Fevereiro 1967
2. 'A praça' (Ronnie Von) - Abril 1967
3. 'Meu grito' (Agnaldo Timóteo) - Julho 1967
4. 'Eu te amo mesmo assim' (Martinha) - Setembro 1967
5. 'A whiter shade of pale' (Procol Harum) - Outubro 1967
6. 'Eu daria a minha vida' (Roberto Carlos) - Dezembro 1967.
1. 'Namoradinha de um amigo meu' (Roberto Carlos) - Fevereiro 1967
2. 'A praça' (Ronnie Von) - Abril 1967
3. 'Meu grito' (Agnaldo Timóteo) - Julho 1967
4. 'Eu te amo mesmo assim' (Martinha) - Setembro 1967
5. 'A whiter shade of pale' (Procol Harum) - Outubro 1967
6. 'Eu daria a minha vida' (Roberto Carlos) - Dezembro 1967.
Luigi : 27 January 2010. It won’t be long !!!
Amanhã as 9:00 hs farei a segunda angioplastia. Torça por mim. Obrigado pelo material Beatles em Porto Alegre; na volta gostaria de comentar a respeito disso. Muito elucidativo a tua explicação sobre o empresario Antonio Aguillar. Cleber Machado foi falha da minha memoria, creio que estou ficando velho e senil (rs).
Na minha volta falaremos melhor. Grande e saudoso abraço, Paulo.
Estou fazendo uma pesquisa sobre os primeiros conjuntos instrumentais brasileiros: The Jet Blacks, Jordans e Clevers. Só que não sei muito sobre musica instrumental.
Como sei que v. tocou com o Werbal e outros conjuntos onde se tocava muita musica instrumental, gostaria, se possivel, que v. me desse uma aula sobre esse assunto.
Me diga quem você preferia: the Ventures ou the Shadows? Me lembro que o Walter Tsutsui gostava mais dos Ventures, mas creio, que você deva gostar mais dos ‘conterrâneos’ Shadows. Qual o repertório que você mais tocou naquele tempo de Vila Madalena? E quais as suas preferidas?
Enfim, deixo a seu critério, pois não entendo muito sobre o assunto. Junto vai um texto que mandei para minha amiga Marcia Espindola, lá do Rio, mas não creio que ela saiba muito tampouco, já que ela é fã do Neil Sedaka. Obrigado por antecipação e abraços mil... e tenha um super feliz week-end. Luv, Luigi.
Luigi : 27 February 2010.
Não creio que tenho conhecimentos para uma aula de música instrumental, pois a geração que pertenci tocava mais musicas cantadas.
No entanto como um maldito paradigma, toda a banda dos anos 1965/1966 tinha a obrigação de possuir em seu repertorio verdadeiras ‘peroladas’ SOLADAS. E haja estomago, pois, na verdade, não havia guitarristas com esta capacidade de conduzir com habilidade todas as nuances de The Shadows ou Ventures, eram apenas caricaturas, a exemplo de um João Miguel, que mais fazia marketing para poder comer as meninas do que propriamente habilidade.
Em nosso repertorio, e de 99% das bandas amadoras da época, tinha que, obrigatoriamente, tocar ‘Theme for young lovers’ (‘Tema para jovens enamorados’), tanto Shadows como Ventures, e aqui no Brasil, Jet Blacks. Fecho meus olhos e automaticamente sou conduzido àquela época, V.Madalena-V.Beatriz, rua Delfina. Esta música, hipnoticamente, me conduz a minha meninice/adolescência, a primeira música que aprendi no contra-baixo, o horror de tocar horas seguidas esta balela que não sai daquilo. Onde só o guitarrista-solo exacerbava e tínhamos que ficar em meio ao GRANDE PODER de seus solos tenebrosos (argh).
Além desta musica, outras eram obrigatórios para as bandas daquela época : ‘El presidente’, que era uma versão guitarristica da musica de Herp Albert.
Nos bailes, o mela-calças era o ‘Sleepwalk’ (Shadows/Ventures), quem naquela época não dançou ao som desta musica e não teve que ir ao banheiro para providenciar discrição, na entumencia que surgia invariavelmente.
Curiosidade: ‘Cry for a shadow’ foi a primeira musica composta pelos Fab4, e que traz a assinatura única: Lennon/Harrison (1962).
Estou te enviando: ‘Tema para jovens enamorados’, Jet Blacks; ‘Wonderful land’, Shadows, outra das obrigatórias 'Sleepwalk' com Shadows; 'Cry for a shadow' the Beatles. Talvez te ajude nesta pesquisa.
Hoje compreendo que éramos obrigados a tocar estas musicas, muito mais pela deficiência técnica, pois não existiam bons microfones, nem amplificadores que permitissem uma boa perfomance, muito menos equalizadores voz/instrumento, por isso as musicas “soladas” eram as que ficavam melhores, pois não exigia tecnologia avançada. Estávamos na era pré-histórica.
Para você ter ideia muitas bandas profissionais não possuíam aparato para desempenhar bem suas funções. Os Incríveis, por exemplo, não possuíam grandes aparelhos para a voz; Renato e seus Blue Caps mais pobres ainda. Pior ainda era uma banda que tocava constantemente na Jovem Guarda, e uma vez foi tocar no Colégio Fernão Dias, em Pinheiros, e vimos a pobreza de equipamentos, era a banda The Beatniks, que procura fazer cover dos Beatles; eram horríveis.
Para você ter ideia muitas bandas profissionais não possuíam aparato para desempenhar bem suas funções. Os Incríveis, por exemplo, não possuíam grandes aparelhos para a voz; Renato e seus Blue Caps mais pobres ainda. Pior ainda era uma banda que tocava constantemente na Jovem Guarda, e uma vez foi tocar no Colégio Fernão Dias, em Pinheiros, e vimos a pobreza de equipamentos, era a banda The Beatniks, que procura fazer cover dos Beatles; eram horríveis.
Minha preferida era a ‘Sleepwalk’ com the Shadows.
Hiroko, baseado na astrologia deve ter sido uma pessoa muito maneira. George Harrison, o mais maneiro dos Beatles, era de 25 de fevereiro. Peixes é verdadeiramente o signo das pessoas iluminadas espiritualmente. Vou ficando por aqui.
Não sei se te ajudei, mas vamos conversando assim podemos convergência grande abraço, Paulo.
Luigi: 27 February 2010
Obrigado pela materia. Bastante esclarecedor o ponto de vista de Ronnie. Corrobora totalmente aquilo que falei, foi utilizado (inocentemente?) pela concorrencia das gravadoras produtoras, loucas para fazer um grande idolo.
Dearest Paulo,
Obrigadíssimo pelas reminiscências da V. Madalena-V.Beatriz e adjacências. Valeu tocar no assunto. Minha pesquisa não é nada profundo; é só uma tentativa de catalogar os principais conjuntos nacionais e seus maiores sucessos. Queria te perguntar o nome de uma música instrumental que todo mundo tocava, mas não dá, pois não tenho elementos p’ra saber se era dos Shadows ou Ventures. Perguntei p’ro Osvalo, mas é obvio, que ele não sabe, embora se lembre da musica.
É incrível como minha tia Dulce ainda é o centro da família dos Coelhos. Ela ainda dá as cartas por lá. Todos os filhos são protestantes, ou pelo menos seguem a tradição protestante de dizer ‘grace’ antes das refeições e citarem a Bíblia sempre que podem. Tia Dulce vive indo à cultos, quando não faz culto na própria casa dela. Celso foi o único que se rebelou e virou Rosacruz, para dissabor dela.
Chega de fofoca da vida alheia. Vamos voltar ao assunto ‘conjuntos instrumentais’.
Me lembro de todas essas que v. citou, ‘Theme for young lovers’ e ‘Wonderful land’ (muito bonita). ‘Sleep walk’ eu acabei conhecendo nos USA com os originais, que eram dois irmãos hispanos Santo & Domingo. Foram eles que compuseram e levaram essa musica para o 1º posto da Billboard em setembro de 1959, no tempo que tocava ‘Estúpido cupido’ com Celly Campello nas radios daqui.
Nossa, achei super-legal v. descrever um pouco dos bailes nos quais você tocava. Estava me lembrando que qdo. eu escutava radio entre 1961 e 1963 [e muito radio, pois conhecia todas as musicas que tocavam nas paradas de sucesso] tinha uma cantora que fez sucesso com uma só musica [que não me lembro mais] chamada Yeda Maria, que muito tempo depois eu fiquei sabendo que tinha um irmão caçula que tocava no conjunto de vocês. O pior é que esqueci o nome dele, mas o Osvaldo sempre fala dele, pois diz que ele tocava bossa-nova... me lembrei do nome do rapaz: Horácio. Ele era bom guitarrista mesmo? Que fim levou? Você perdeu contacto? E o irmão do Toninho, irmão da Wilma? Era Walter o nome dele, se não me engano.
Falei da Yeda Maria, pois tenho um compacto-duplo dela pela RCA Victor. Ela tb. está no livro ‘Rock brasileiro 1955-1965’, do Albert Pavão, que é o melhor livro sobre o assunto dos inúmeros que se lançou no mercado nos últimos 20 anos. No livro do Albert aparecem três 78 rpms da Yeda gravados pela Chantecler entre 1960 e 1963. Osvaldo disse que um dia ele foi na casa do Horácio e lá tinha um piano super lindo que era da Yeda.
Por falar naqueles anos, morreu o compositor de ‘Susie Q’ – chamado Dale Hawkins. Saiu no NYT e eu baixei. Essa musica é de 1958... e foi gravada por deus-e-todo-mundo. Me lembro das versões de Johnny Rivers, Credence Clearwater e ... Jet Blacks. O mais interessante do necrológico dele é que ele se tornou produtor de discos da área de Chicago e produziu The Uniques, que gravaram ‘Georgia on my mind’, que foi uma das 4 musicas daquele compacto-duplo do Apollo Som. Nunca soube nada desse conjunto até então. Eles eram da área de Chicago. Pronto, taí mais uma informação inútil para você. Como era mesmo o nome da cantora? Isa? As outras musicas eram ‘Ballad of John & Yoko’ e ‘A time for us’. E a quarta?
Você não acha que sua próxima angioplastia está muito proxima da ultima? Fico por aqui... abraços múltiplos cheio de saudades... e esperança, Luigi.
Luigi: 1º 03 2010 – Tell me what you see!
O que o Osvaldo foi se lembrar. Minha namorada daqueles tempos se chamava Ieda Xavier de Lima. Não era advogada, e sim contadora; ela era sócia de um escritório de contabilidade que alugava metade do imóvel que o Apollo Som utilizava na rua Oscar Freire. Nosso namoro não prosperou.
Era 'Venus', dos Shocking Blues, a 4ª musica gravada pelo Apollo Som; quem cantava era o Walter Fordeco, irmão da Vilma.
Na realidade vou ter consulta em 8 março para marcarmos a data exata da 3ª angioplastia; creio que dr. Dulcilek vai marcar para abril ou maio.
Vou ficando por aqui, pois tenho de sair; tenho consulta com meu nefrologista, depois te escrevo mais. Grande abraço, Paulo.
Luigi: 4 March 2010. In spite of all danger!!!
Demorei para escrever, pois me chamaram para realizar vários exames a fim de evitar novo internamento. Meu pulmão está com um pouco de liquido. Infelizmente,quando se torna renal-cronico, qualquer mudança orgânica é assustadora. Até aqui estou conseguindo controlar medianamente.
Não consegui parar de rir no seu relato erótico/escatológico juntamente com seus primos. Desculpe, não sei se era para rir, mas é hilário o desfecho.
Me lembra algo parecido que ocorreu em 1972, antes de ir para Buenos Ayres. Fomos para a festa da uva e vinho de São Roque, lá bebemos muito vinho e estávamos meio alto, quando o Zé Roberto, um amigo guitarrista de Carapicuiba, deu uma baita de uma caganeira, e lá foi ele, no matinho mesmo. Estava tão de fogo, que ele derrapou e sentou em cima da cagada. Resultado: borrou-se completamente, e por mais que esforçasse para limpar, ficou obviamente os resíduos de bosta que ainda exarava um fedor terrível. Tivemos que vir embora. Toda turminha, havíamos ido de Kombi. Imagine a cena, todos os vidros abertos, e não conseguíamos parar de rir do pobre Zé Roberto todo cagado, e agüentando a gozação de 10 pessoas. E o fedor continuava. Que merda (rsrsrsr).
Hoje 04/03 meu pai estaria fazendo aniversário, faria hoje, se estivesse vivo 107 anos. Meu, que impossivel, mas tenho muita saudades do meu pai...
Luigi, tenho consulta meio-dia, para ver os resultados dos exames que fiz nestes últimos dias. Por isso vou ficando por aqui. Grande e saudoso abraço, Paulo.
Dearest Paulo, 5 March 2010.
Não se preocupe, pode rir à vontade. Toda história que contém o elemento ‘merda’ é cômica, queira ou não queira. A história de seu amigo Zé Roberto é gozada pois ele caiu em cima da própria merda.
Você falou que sente saudades de seu Pai. Eu acho perfeitamente verossímil [e verdadeiro], pois a gente guarda memórias de imagens das mais remotas possíveis.
Nosso cérebro trabalha com ‘associação’. Isso é, a gente já tem um ‘banco’ de imagens, sons e aromas gravados lá, e quando a gente vê algo ‘novo’, nosso cérebro imediatamente ‘associa’ ao que já tem lá gravado. Concordas? Eu concordo plenamente, pois fui estrangeiro muitos anos.
Por que é tão difícil ser estrangeiro? Porque a língua ‘corrente’ não foi ‘gravada’ no nosso cérebro quando ele estava se desenvolvendo, e então v., depois de marmanjo, tem que começar esse processo de ‘gravação’ nova, qdo. toda a população do país em questão, já ‘está em outra’. É porisso que é uma merda ser estrangeiro. Você está sempre ‘atrasado’.
Nossa, aqui estou a desenvolver ‘teorias’ neuro´lingüísticas... o Noam Chomsky é ‘cobra’ nessa matéria. É meu ‘pensador’ favorito... e não é nem pela parte lingüística dele, não... é pela parte política. Ele é um cérebro! Boicotado pelo Establishment norte-americano [media em geral, banido da TV e debates]. Os verdadeiros valores norte-americanos são ostracizados. Aquele país não tem futuro porque quem manda lá é uma máfia da mais obscurantista possivel. Eles estão em decadência acelerada.
Ah, hoje fiquei sabendo uma curiosidade que nunca tinha notado. Celly Campello nasceu na Maternidade São Paulo, da rua Frei Caneca, no dia 18 de Junho de 1942. Será que os astros estavam muito musicais nesse dia? Não querendo compará-la com o inglês famoso desse dia, Celly era de uma musicalidade fenomenal. Pena que seu repertório não tenha sido dos melhores, mas até o maestro Antonio Carlos Jobim [que era diretor artístico da Odeon em 1958-1959] disse que Celly tinha um aparelho fonador invejável. Abraços mil, Luigi.
P.S.: tenho que admitir minha ignorância e dizer que não conheço ‘In spite of all danger’. É musica dos Beatles?
Luigi: 8 March 2010
Nossa tchurminha, se é que podemos assim dizer, de vez em quando, gravava verdadeiras ‘jam sessions’. Assim me recordo que em casa, na Vila Sonia, chegamos a gravar inúmeras vezes. Assim como na casa do Pará, do Nelsinho e assim por diante. Som arcaico, de pouquíssima qualidade, mas de vez em quando saia algo audível que devido a inspiração momentânea dos envolvidos, era algo curtivel.
Em 1956-1957, John. Paul e George gravaram ‘In spite off all the danger’ desta forma. Eles que eram um trio, Quarrymen, gravaram de brincadeira a primeira composição, composta por um deles. Neste caso o George. Até então tinham gravações também caseiras, mas cover de outros compositores, e neste dia resolveram dar um passo: gravar musica própria. Tres violões e simplicidade total...
O pai do João Miguel era João Miguel Jarra, e obviamente o filho João Miguel Jarra Filho. Na verdade não vivenciei intimidades com a família Jarra. O João Miguel apenas me aturava. Fui diversas vezes na casa deles na rua Judite, mas nunca desfrutei de nenhuma intimidade com nenhum deles. Era interessante para os Pissing Dogs possuir um baixista, rendia contratos melhores tais como na Pizzaria Tarantela, onde tocávamos sextas e sábados.
Tinha um irmão, o Jacques, que tocava bateria no Pissing dogs. Também possuía uma irmã caçula, a Eleninha. Moravam numa verdadeira mansão na rua Judite. Era a ultima casa da rua. Por baixo, diria, que o terreno onde estava o imóvel tinha, pelo menos 2000 m2. Seu Jarra construiu uma confortável residência neste terreno e bem do lado havia um galpão de costura, que era a fonte de renda dos Jarras. Naquela época não havia coreanos nem paraguaios.
Me lembro que em 1966, o sonho de consumo de todo jovem, principalmente o adolescente, era ter uma calça Lee. Mas era um sonho relativamente caro. Uma calça jeans brim santista, custava como 15 cruzeiros, uma Lee legitima chegava a custar 70/100 cruzeiros. E as calças do seu Jarra podiam ser obtidos a 30/40 cruzeiros e visualmente eram idênticas as calças Lee. Seu Jarra, foi o primeiro (?) que inventou a imitação das calças Lee, e amealhou verdadeira fortuna, chegando a exportar milhares de calças para o mundo inteiro.
Aquela oficina de costuras era um verdadeiro fervor, na tentativa de atender a demanda que chegava a ser mundial. Com isto, construiu uma verdadeira fortuna, além de dar emprego a centenas de costureiras. Tanto foi seu prestigio que você pode pesquisar. A Rua Judite, não sei em que ano, foi modificada para Rua João Miguel Jarra, como forma de homenagem a um benemérito local.
Sim, tenho fotos de minha mãe e meu pai, mas achei caríssimo digitaliza-las; tou criando coragem e cash para fazer isto. Não, não fiquei com nenhuma foto dos Pissing, o que é uma pena.
O inglês famoso, alem da musicalidade extraordinária, possuía algo que Celly não possuía: sorte, sorte total. Tou enviando ‘In spite off all the danger’. Grande abraço saudoso, Paulo.
Luigi : 25 March 2010. Crippled inside
Não tenho fotos deste pessoal, pois devido a minha vida errante desta época, ia perdendo tudo por aí, em cada casa acabei deixando objetos pessoais. É uma pena...
Estas revistas (antigas) devem ser a maior preciosidade.Tem dias que fico horas em sebos, lendo as noticias, e perco totalmente a noção de tempo. Fica-se horas vendo reportagens da época e vc. se assombra com uma e outra noticia. Isto é maravilhoso.
A segunda angioplastia liberou minhas artérias. Estou mais saudável, no entanto tive algumas sequelas produto do contraste que eles utilizam, estou me recuperando lentamente, mas vou em frente...
O Aloisio, da ultima vez que o encontrei em 1990, havia se formado contador, mas estávamos muito afastados...
Queria te perguntar; vc. conhece uma musica do Macca de 1989 está no CD “Flowers in the dirt” chamado ‘Distractions’? Para mim é uma verdadeira perola. Consegui uma coletânea de 4 cds dos Fabs intitulado “The red ligth’s on”. Mais uma pirataria, com verdadeiros achados, como versões de ‘Norwegian Wood’, ‘Hold me tight’, ‘No pakistanis’, ‘Child of nature’.
Enfim fico alucinado e escutando o dia inteiro. Natalia e Juliana (minha enteada) não agüentam mais (rsrsrs). Para um old beatlemaniaco é um deleite total, pois estas versões não conhecia ainda.
Luigi , querido vou ficando por aqui, me cansei muito hoje no PROCON. Miríades de abraços saudosos, Paulo.
Dearest Paulo, 25 March 2010.
Ontem escutei ‘The joker’ com Steve Miller Band... não é grandes coisas, mas o refrão é cativante. Daí resolvi colocar ‘Revolver’, na verdade ‘The Alternate Revolver’, que eu consegui com um ex-beatlemaníaco [já morreu]... pq. tem uma ‘Eleanor Rigby’ só instrumental que eu amo de paixão.
Coloquei na faixa 1: ‘Taxman’ e fiquei ‘viajando’ no sotaque do Harrison [o mais ‘carregado’ de todos eles] e na própria letra da música, que fala sobre o sistema tributário inglês... Mr. Wilson – primeiro-ministro trabalhista [Labour] daquela época e Mr. Heath [PM do Partido Conservador]... e como meu CD-player só está tocando um canal, a música ficou mais estranha ainda.
‘Revolver’ foi, talvez, o LP dos Beatles que eu menos conheci, pois eu comprei meu ‘Rubber soul’, em 1966, já de 2ª mão, um pouco antes de te conhecer. Qdo. comprei ‘Rubber soul’, o ‘Revolver’ já tinha saído.
Daí qdo. te conheci, v. cantava e tocava mais as músicas antigas, de LPs que eu tb. não conhecia. O primeiro LP dos Beatles que eu comprei foi ‘Os reis do ié ié ié’.
Qdo. você apareceu com o ‘Sgt. Pepper’s’ lá em casa na rua Simpatia, a gente só escutava ele. Então eu acabei não conhecendo o LP ‘Revolver’, embora conhecesse ‘Eleanor Rigby’, ‘Here, there...’ e algumas outras.
‘Dr. Robert’ eu adoro... Só muito tempo depois é que fiquei sabendo que esse Dr. Robert era um médico de NY que prescrevia receitas de LSD e outros alucinógenos para seus clientes. É porisso que John canta ‘well, well, well, he will make you well’.... ‘Very naughty’, como diriam alguns.
Não sei se já te falei, mas nos quase 20 anos que vivi na Australia, a maioria de meus amigos eram inglêses. Não me pergunte pq, pois não há explicação razoável. Então eu me acostumei com os vários sotáques inglêses... inclusive o de Liverpool, que é um ‘chute-no-saco’... de difícil. O Liverpoodian é diferente do ‘cockney’ de London. Eu só me acostumei com o Liverpoodian porque assistia diáriamente a ‘Brookside’, uma novela produzida pela BBC lá de Liverpool. No começo eu entendi muito pouco, mas com o tempo eu fui pegando as ‘manhas’. Hoje posso não imitar, mas entendo muito bem. O cockney eu tb. sei bem, pois assisti ‘Eastenders’ uma novela que fêz 20 anos outro dia. Eu devo tê-la seguido uns 3 ou 4 anos.
Eu acompanhava o sucesso de Paul McCartney pelo radio lá dos USA ou da Australia. Nos USA, eu peguei o auge do Macca que começou com ‘Band on the run’ [1974], ficou no altíssimo com ‘Venus and Mars’ – me lembro chegando em New Jersey em Julho de 1975, e ‘Listen to what the man said’ estando em 1º lugar na Billboard.
Depois em 1976 Macca lançou ‘Wings at the speed of sound’, com uma musica ‘discotheque’ ‘Silly love songs’, que tocava no radio pelo menos 10 vezes por hora... do mesmo disco ele emplacou ‘Let ‘em in’.
Voltanto p’ro Brasil eu ficava totalmente por fora de música em geral. Daí eu fui p’ra Australia em 1981 e lá estava o Paul McCartney fazendo sucesso novamente... agora com Stevie Wonder [‘Ebony & Ivory’] e Michael Jackson, em ‘The girl is mine’ [musiquinha xarope!] e ‘Say say say’ – que chegou ao 1º lugar. Depois o Macca começou a cair aos poucos. Suas musicas já não iam p’ro 1º posto como antes.
Acho que a ultima musica de McCartney que eu acompanhei no radio foi ‘No more lonely nights’. Depois dessa eu já não conheço mais nada dele. Me lembro que ele lançou ‘Pipes of peace’, mas foi um fracasso [de vendagem]. Paul nunca mais se levantou... George Harrison ainda se juntou a Dylan, Roy Orbison e aquele cara da Electric Light Orchestra [Jeffrey Lynn] e lançaram ‘Handle with care’... essa foi a ultima vez que eu ouvi George Harrison cantar. O ano eu já não me lembro, mas é um dos últimos anos da década de 80. 89? 90? Preciso verificar em Google. Luv, always, Luigi.
* 27 Março 1915
+ 26 Outubro 1987
Hoje seria o aniversário natalício de minha Mãe. Ela estaria completando 95 anos. Sinto, as vezes, muitas saudades de mamãe. Talvez minha vida seria completamente diferente se tivemos agido diferente, em diferentes ocasiões. Infelizmente éramos inexperientes, mamãe com seu completo desconhecimento de ação materna e eu por ser jovem demais...
O Procon agiu com rapidez, devido as minhas prerrogativas de renal crônico, e cardiopata. Preciso em caráter emergencial da internet, pois os resultados dos exames e quaisquer alteração, são comunicados pelos meus médicos principais Nefrologia e cardiologia via internet. Levei todos os documentos comprovando o fato, e eles prontamente agiram. Felizmente, após meus exames quase-semanais de sangue, possuem agilidade devido a comunicação eletrônica; não tenho de voltar toda hora no consultório. Os resultados e diagnósticos são analisados e enviados para mim via internet, poupando tempo e principalmente desgaste físico. Como, de certa forma, existe risco de vida, o Procon correu contra o tempo, utilizando todos os poderes que dispunha. São alguma das pequenas vantagens que doenças crônicas trazem (rsrsrsr)
Sim, sabia da morte do Agostinho desde que cheguei aqui em Curitiba 1998. Cheguei a telefonar para a Maria Helena (esposa) para apresentar meus pêsames. Fui, de certa forma, mais próximo ao Agostinho. Costumava dar conselhos para mim. Quando era jovem sempre fui “gastador” e não pensava no amanhã. Muitas vezes pagava a conta da galera no Mic Mac, e tinha gente que aproveitava, pedia do bom e do melhor, e eu sempre paguei. Já o Agostinho nunca aceitou, além de sempre pedir o sanduíche mais econômico. Nunca permitiu que pagasse conta alguma dele. Costumava dizer que as pessoas deviam de ter vergonha pois eu era mais necessitado pois sequer possuía um lar.
Dizia sempre, ‘poupe para o amanhã’. Se tivesse escutado ele, com certeza, teria amealhado um bom dinheiro. Também em 1973/1974 morei alguns meses na casa que pertencia a ele no Taboão da Serra, juntamente com o Claudio e a Rosa, onde ocorreu o desfecho com o Osvaldo teu irmão da aventura que ele teve com a Rosa.
Tinha muita gratidão ao Agostinho. Sujeito equilibrado e justo, parecia um velho embora só fosse 4 anos mais velho do que eu. Era além de tudo um 'dreamer'. Costumava sonhar com um mundo melhor e tinha como filosofia fazer qualquer coisa para melhorar, mesmo que fossem apenas palavras, mas um gesto, segundo ele era o principio. Costumava dissertar horas a fio sobre um mundo melhor com pessoas melhores. Além de ser um grande artista do artesanato, tudo que o Nelsinho aprendeu, creio, deve a ele. Pintava como ninguém, principalmente temas surrealistas. Não gostava de drogas embora parecesse viver viajando. Seu pai, 'seu' Monteiro, portuguezão, totalmente diferente da maioria dos lusitanos que até então havia conhecido, foi forte influencia para Agostinho. Se de um lado influenciou Agostinho a ser uma pessoa controlada, do outro era uma pessoa antenada com novos tempos e recomendava sempre aos jovens a viverem o mundo atual, buscar oportunidades. Tenho muitas saudades das tertúlias que a dupla produzia na residência deles. Simples, porem sincero.
Sim, o contraste é um liquido tóxico (radioativo), em pequena quantidade, que serve para “contrastar” na tela do computador as artérias sadias com as danificadas. Desta forma é possível identificar e realizar a Angioplastia com segurança, porem com efeitos colaterais.
‘No Pakistanis’ , é a primeira versão de ‘Get back’, contrariando o que normalmente os Fabs faziam ‘politicamente corretos’. Macca escreveu uma música (melodia ‘Get back’) e letra com assunto político explicito contando a divisão da Índia e a criação do Paquistão. Cairam de pau (gravadora, produtora, amigos,etc). Assustaram Macca, que rapidamente transformou no Get Back que conhecemos.
Algo assemelhado a ‘Child of nature’, escrita na época do ‘White album’, e que havia ficado encostado. Um verdadeiro libero verde. Uma trip eco-musical. Mas Lennon não conseguia ficar satisfeito com o efeito. Acabou lançando como ‘Jealous guy’ na carreira solo.
Te perguntei sobre ‘Flowers in the dirt’, principalmente devido a musica ‘Distractions’. Se tiver oportunidade, escute. Remete àqueles inícios do programa “Astros do disco” do final da década de 50 e inicio dos 60 regida pela orquestra do Sylvio Mazzuca, e a musica é pura MPB.
Vou ficando por aqui. Lutando contra o tempo, na verdade não posso aguardar muito tempo para a terceira angioplastia, devido ao fato de querer realizar o transplante renal e resgatar minha vida, antes que seja tarde demais (estamos ficando older). Quero resgatar e aproveitar a ultima (?) etapa.
Um grande abraço saudoso, e um bom final de semana, Paulo.
dearest Paulo, 29 March 2010.
não sabia que v. tinha sido tão intimo assim do Agostinho. Como te falei, ele caíu numa 1ª série comigo; ele devia ser 2 anos mais velho que eu, e nunca conversamos sequer. Como eu sempre esperava o pior de todos os membros do sexo masculino, achava que o Agostinho ainda não tinha me ‘xingado’ ou chacoteado porque tinha faltado oportunidade, mas vejo agora, pelo seu relato, que ele era totalmente diferente do resto da ‘malta’.
O mais interessante da sua Mãe, pelo que v. me contou; ela foi, de certa maneira, ‘mãe’ para os irmãos e irmãs dela, ajudando a criá-los, e quando chegou na sua vez, ela não cumpriu esse papel. É, a vida é muito estranha. Não dá para julgar um caso pelo outro.
Talvez a morte de seu Pai tenha sido muito forte para o psiquismo dela. Essas coisas acontecem. Ela já tinha 36 anos quando teve você!
Minha Mãe tinha 30 anos quando me teve. Ela nasceu em 1919 e eu nasci em 1949.
Gostaria muito de ouvir ‘No Pakistanis’. E tb. de ouvir ‘Child of nature’, já que eu adoro a melodia de ‘Jealous guy’. O Lp ‘Imagine’ me lembra muito os primeiros mêses quando cheguei aos USA. ‘Imagine’ – o 45 rpm – tinha acabado de ser lançado e tocava direto no radio. E mais tarde começaram a tocar o album... tocava ‘Jealous guy’ e ‘Oh Yoko’, além de ‘Crippled inside’. Aliás, por falar em ‘politicamente incorreto’, o título de ‘Crippled inside’ não é nada correto. Só que em 1971 ainda não se tinham essas sensibilidades.
Luigi: 7 April 2010. Leave my kitten [PC] alone !!!
Parece que quando a fase anda ruim, até passarinho "caga" na cabeça do urubu. Pegamos um super-virus que detonou meu computador.
A Juliana (minha enteada), foi utilizar um pen-drive que havia sido utilizado na faculdade, e quando abriu aqui em casa detonou literalmente meu PC. Para voce ter ideia invadiu até a placa mãe, praticamente inutilizou meu computador. Voce não imagina, como não havia back up, perdi tudo, mais de 2000 musicas, 200 videos, além de documentos e exames da pro-renal mandados de forma eletronica.
Estou pasmo e passado, nem sentado consigo readquirir folego. Foi demais para minha cabeça já atormentada pelas multiplas doenças. Não me entra na minha cabeça qual é o prazer de alguem criar e remeter virus para outra pessoa. Por mais força que eu faça não consigo encontrar plausibilidade nisto.
Estou te escrevendo da casa de um amigo. Alias muito obrigado pelas fotos, algumas realmente espantosas, como a do Sean Connery, não sabia que que ele era da escola do Reg Park, Steve Reeves etc. Do Kennedy então, sem comentários.....(rs)
Estou te escrevendo para não criarmos uma lacuna (tempo) sem escrever, mas são breves palavras para dizer a quantas ando por aqui
Saudosos abraços, Paulo.
dearest Paulo, 8 April 2010.
Puxa que tragédia! Juliana teria que mandar a materia de faculdade através de Gmail.
Outra opção seria a Juliana ter um computador ‘vagabundo’ [de 2ª classe] em casa, só para enfiar pen-drives, mas já sabendo de ante-mão que a coisa pode pifar. Sinto muito pela sua perda, mas vocês estavam brincando com fogo e não sabiam.
Querido Paulo, de certa maneira fico contente de saber que não aconteceu nada a você... se você demorar para responder eu já sei a razão. Minhas condolências.
Abraços multiplos, Luigi.
Luigi : 14 April 2010. Because !!!
Estou inaugurando meu PC, com placa mãe nova, codex de audio novo, reformatado e quinhentos reais mais pobre.
Não, não foi ingenuidade não. Pelo menos não da minha parte. Havia saido para resolver alguns assuntos. E a Juliana, lotada de trabalhos da faculdade (ultimo ano), desobedecendo meus insistentes pedidos, utilizou meu computador e, desnecessário dizer, o resultado. Atribuo a isto, fazendo um questionamento: Quantas vezes, nós desobedecemos aos nossos responsáveis, quando eramos mais jovens?
Achávamos que eles estavam exagerando na leitura de algum problema, e embora tivéssemos até analisado a questão em discussão, acabávamos fazendo exatamente o contrário daquilo que nos foi pedido. Eu, particularmente me lembro de dezenas, talvez centenas de vezes que isto ocorreu e, infelizmente, quando brotava o momento, sempre o efeito era contrario daquilo que havia minimamente preconizado.
No caso da Juliana, ela quis utilizar o meu PC, justamente por ser o mais rapido, o mais moderno. Tem outro computador aqui em casa, mas está encostado (só serve para trabalhos escolares sem Internet).
Enfim, soluções feitas, algumas broncas lights – afinal, não sou o pai, tenho de compreender meu limite de padrasto para pai, e tenho que ser mais politico do que a figura paterna, para que todas possam dormir tranquilos no reino dos Tyba.
Fiquei pasmo com a sua narrativa para se manter up to date com a modernidade on line. Parabens és um guerreiro. Não sei se teria tamanha paciencia para batalhar tudo isto. Neste momento, estou baixando todas as ferramentas, tais como o windows office, sonar tutorial (que é do meu estudio) etc. Um verdadeiro exercicio de paciencia e tempo. Te escrevi para não deixar uma lacuna maior de tempo e assim vamos ocupando a nossa terceira idade rsrsrsr.
Grande abraço, Paulo.
dearest Paulo, 25 April 2010.
Jee, não percebi o tempo passando. Faz exatamente 10 dias que v. Me escreveu, eu disse que ia responder e se passaram 10 dias. Perdoe a falha.
No interim eu terminei de transcrever o que tinha dos cadernos deixados pelo Jaime Ponciano. Fui ao Marcelo, amigo comum, para scannear alguns desenhos dele que estão comigo. O tempo passou, voou...
Espero que esteja tudo bem aí contigo. Abraços mil, Luiz C.
Espero que esteja tudo bem aí contigo. Abraços mil, Luiz C.
Dear Luigi: 18 May 2010. The inner light !!!
Um mês internado.Por conta de uma nova pneumonia.O tempo mudou aqui em Curitiba, faz muito frio e a umidade é cruel.
É difícil para mim compreender o mecanismo que desencadeia este processo. Mas é algo mais ou menos assim: Como não tenho rins, e quase não urino, o excesso de liquido transporta-se principalmente para as pernas provocando inchaço, e as vezes, não consigo eliminar com a dialise peritonial; neste caso o liquido vai para o pulmão e deflagra a pneumonia. Desta vez tive de aturar este internamento até "secar" o pulmão e quase sequei meu cérebro também, pois não é fácil ficar 30 dias num leito hospitalar, uffaa.
Rezo para poder realizar a terceira angioplastia e consequentemente entrar na fila para o transplante, ainda quero viver como gente normal antes de ir para a eternidade. Principalmente beber muito liquido, litros e litros de muita água, gelada. Sonho com isto.
Vi seu ultimo email. Não se preocupe, as vezes a gente acaba se separando por conta das circunstancias contrarias a nossa vontade.
Estou te escrevendo para te dizer que ainda estou por aqui, com coragem e algo a inner light diz, que vou vencer. Não são palavras piegas. Tenho esta convicção interna irredutível. E invencível.
Grande e saudoso abraço, Paulo.
dearest Paulo, 19 May 2010.
Welcome back (again) !!! Bem que imaginei que algo tinha acontecido contigo, pois não recebia comunicação. Ainda bem que v. superou mais essa.
Realmente, o tempo úmido é o pior possível para qualquer convalescente. Não me esqueço que a ‘gota d´água’ no desfechar da tragédia de meu amigo Jaime, no ano passado, foi justamente aquele inverno molhado de 2009. Foi o inverno mais úmido (chuvoso) que eu experimentei aqui no Brasil desde que voltei da Australia em 1999.
Gozado que os brasileiros, em geral, não prestam atenção nas mudanças climáticas. Eu comentava (em 2009) com as pessoas sobre o inverno molhadíssimo e ninguém dava bolas, como que se aquilo fosse ‘normal’. Não, a regra aqui no Brasil é inverno seco. As chuvas, geralmente, param no inverno. 2009 foi totalmente atípico!
E Jaime, já estando debilitado, pois estava com uma anemia profunda, acabou sucumbindo à umidade (e a falta de cuidado dele próprio), contraindo uma pneumonia na hora errada. Ele não estava assim, tão mal, para um óbito inesperado. Para um paciente com HIV, tem que se ter em mente dois factores:
a) carga viral - a contagem dos vírus deve ser baixa; b) CD4 (células que atacam organismos oportunistas) a contagem deve ser alta.
Jaime estava com Carga Viral baixa e contagem de CD4 alta. Portanto ele estava ‘bem’ clinicamente. Só que estando com anemia e peso abaixo da média, não resistiu ao ataque de uma pneumonia.
Agora, no seu caso, seria o acúmulo de líquido no pulmão que é perigoso. É uma situação melindrosa, mesmo.
Como seu rim, ou, seus rins tornaram-se não-funcionais? Houve alguma razão específica ou é hereditário? Seus rins são ‘preguiçosos’? Você descobriu aos poucos ou a coisa aconteceu de-repente?
Adorei receber comunicação sua... e saber que v. tem a atitude correta em relação ao seu estado de saúde. Sim, é por aí mesmo... v. vai vencer todas essas paradas... Abraços múltiplos, Luigi.
This was the last time Paulo Tyba wrote to me. He probably went into hospital again and I never heard of him anymore.
Luigi: 19 May 2010. Happy birthday!
Feliz aniversário. Falta pouco para o ‘When I 'm 64’ (rsrsrsr). Voce imaginaria em 1967, como você estaria com 61? Dificil né?
Eu nunca suporia algo assim, é estranhíssimo no minimo. Mas quero te desejar um feliz aniversário repleto de coisas boas acontecendo.
Grande e saudoso abraço, Paulo.
Grande e saudoso abraço, Paulo.
This was the last time Paulo Tyba wrote to me. He probably went into hospital again and I never heard of him anymore.
Dearest Paulo, 20 May 2010.
Obrigado pelos votos de Happy Birthday! Só depois lembrei-me que é também o título de uma música dos Fab4.
Nunca me esqueço meu aniversário de 1967, quando fiz 18 anos, pois ganhei exatamente dois compactos-simples. Um seu, CS da MGM, ‘San Franciscan nights’, com Eric Burdon & the Animals e o outro foi ’99 tears’, do Question Mark & the Mysteryans ou ? & the Mysteryans. Ambas musicas ainda são bonitas, se você as escuta hoje. O ’99 tears’ eu ganhei do Roberto, meu 'namorado oficial', irmão da Silvia, e o ‘San Franciscan’ ganhei de quem eu era apaixonado [você]! Não parece enredo de música de teen-ager? Ou aquele bolero ‘Quem eu quero não me quer’ (Quem me quer mandei embora).
Pior que ‘When I’m 64’ é ‘Old friends’, de Simon & Garfunkel, do LP ‘Bookends’. É uma música muito bonita e a certa altura o Art Garfunkel diz ‘How strange to be seventy’ !!! Gozado, eu nunca tinha notado que Paul Simon chupou a idéia de ‘ser velho’ dessa música dos Beatles. Precisou v. falar exatamente o que diz a música, 40 anos depois, para cair a ficha. No album ‘Bookends’ (o prensado nos USA) há uma faixa com depoimentos de ‘velhinhos’ colhidos pelo Garfunkel, onde eles contam as ‘agruras’ da Velhice. É gozado quando jovens querem ‘sacar’ o que é ser velho. Não dá para saber. Um jovem só pode fantasiar sobre o assunto.
Já que estamos no reino da musica pop, outra música que fala de ‘velhos’ e me marcou muito é ‘Mr. Bojangles’ de uma banda de ‘cajun music’ chamada Nitty Gritty Dirty Band. O 45 rpm fazia sucesso nos USA quando eu cheguei lá em 1971. Do lado B do 45 há um grande monólogo do Mr. Bojangles falando de sua vida de andarilho junto com seu cachorro pelo sul dos EUA.
Você sempre me faz lembrar algo interessante do passado. Super abraços, Luigi.
Você sempre me faz lembrar algo interessante do passado. Super abraços, Luigi.
Paulo last ever message was the one he sent me for my birthday on 19 May 2010. My birthday was actually the day before 18 May.
Paulo Tyba died on 7 June 2010 exactly one month before he would turn 59 years old. I suspected something was amiss because he would not write anymore. I finally wrote to Eric Gomes, Nelson's son and he confirmed that Paulo had died.
Paulo would not make it another Winter...
Even though I was really sad, at the same time I was happy for having met Paulo again in the last 2 years of his life and we had the chance to reminisce about all those wonderful years we lived together which spanned from 1967 through to 1970.
Paulo would not make it another Winter...
Even though I was really sad, at the same time I was happy for having met Paulo again in the last 2 years of his life and we had the chance to reminisce about all those wonderful years we lived together which spanned from 1967 through to 1970.